quarta-feira, 2 de julho de 2014

Sorria, você está sendo manipulado

Vamos imaginar um caso hipotético:

Você, um plantador e traficante de maconha, rico, muito rico. Tem seu negócio mantido as custas da compra de muitos fiscais, policiais e afins... Mas, em um dado momento, você quer expandir seus negócios, mas esses esbarram na lei, claro, por que tráfico de drogas é ilegal.

Mas, e se, você pudesse fazer um trabalho de conscientização da opinião pública. Conscientizando que "uma erva natural não pode te prejudicar" (Lembra disso?). De que não causa dependência química, como o cigarro, e etc.

Seria bom, para seus negócios que a opinião pública mudasse e as leis junto com ela.

Concordou comigo? Pois, continue lendo.

Quero apresentar a vocês a teoria de um ex-vice presidente de um negócio chamado de Think Tank, que eram uma espécie de clubes para a discussão de assuntos relacionados a sociedade.

O nome do nosso herói de hoje é Joseph P. Overton.

O Sr. Overton pesquisou e entendeu como a opinião pública funciona e como ela pode ser manipulada.

Vou deixar que o mestre Luciano Pires explique:

"Imaginemos qualquer causa politico/social (educação, aborto, descriminalização de drogas, não interessa). Para cada causa há um espectro de ideias que vai de um extremo a outro (do pensamento mais radical ao mais liberal). A janela de Overton é o leque de ideias "aceitáveis" na sociedade, ou seja, a posição da sociedade num dado espectro.


Deixe-me tentar explicar melhor. Vamos tratar do casamento gay, por exemplo. Se alinharmos as posições a respeito do tema teremos algo assim: proibido, proibido com ressalvas, neutro, permitido com ressalvas, permitido livremente.  Durante anos, a janela de Overton esteve na área do proibido. A sociedade não podia aceitar a ideia do casamento gay. Com o passar dos anos, com a discussão do tema, a constante exposição dos argumentos pró gays na mídia, a janela foi se deslocando para proibido com ressalvas, depois para neutro, até chegar onde está hoje: permitido com ressalvas. Em breve será o permitido livremente.
A questão das drogas também. O consumo das drogas tem a janela de Overton posicionada entre proibido e proibido com ressalvas. A exposição do assunto, a atividade febril dos militantes pró descriminalização está deslocando a janela em direção à posição neutra permitida com ressalvas. Em breve teremos uma flexibilização das leis, conforme a opinião pública tornar-se mais tolerante com a ideia da descriminalização.
É no deslocamento da Janela de Overton para posições que sejam de interesse de determinados grupos que está aplicado um esforço altamente profissional, que faz parte do que se convencionou chamar de engenharia social.
Engenharia social é o ato de influenciar uma pessoa para que ela execute ações que não sejam necessariamente de seu melhor interesse. Houve uma tendência de localizar a engenharia social na área de gerenciamento de informação, especialmente em ações relacionadas á internet, mas ela é mais abrangente que isso. Envolve todos os segmentos da sociedade. Toda vez que você tenta fazer com que alguém faça alguma coisa que seja de seu interesse seu de você, e não dele ou dela – você está executando uma ação de engenharia social.  Engenharia social não é necessariamente algo ruim, mas tem sido utilizada extensamente para conseguir que minorias atinjam determinados objetivos.
Muito bem. Sacou? A janela de Overton é a posição dentro de um espectro de opiniões entre o permitido e o proibido, onde se situa a opinião pública. Outro exemplo: na minha infância, a janela de Overton da opinião pública sobre “caçar passarinhoestava na posição “neutro ou a favor”. Hoje essa janela está deslocada para “contra”. Não se admite mais matar passarinhos.
Para tentar deslocar a janela de opinião da posição “contra” para a menos contra”, até chegar à “neutralidadee um dia, ao “a favor”, é fundamental desviar o foco, trabalhando algum outro valor relacionado ao tema. É então que entra em campo um exército de especialistas em opinião pública”: técnicos, cientistas, assessores de imprensa, relações públicas, institutos de pesquisa, agências de lobby, etc etc."

No caso hipotético das maconha, que citei la em cima, basta ele enfatizar que a maconha além de recreativa é medicinal e que não vicia. Mas nenhuma palavra é mencionada quando o assunto é dependência mental, aumento da síndrome do pânico, da criminalidade, destruição eventual de famílias e todos os outros problemas que a maconha acarreta."

Ou seja, o mérito da questão normalmente não é debatido, somente algum tema correlato. Veja o que o jornalista Reynaldo Azevedo disse sobre o caos aéreo.

Não faz tempo, o caos nos aeroportos brasileiros e o péssimo serviço oferecido por algumas companhias aéreas acabaram surgindo no noticiário como evidências do sucesso do governo petista na política de distribuição de renda, que teria levado os pobres para o avião. A questão essencial ficou de lado: por que aeroportos e companhias aéreas não se organizaram para isso? A janela da opinião pública, é evidente, estava numa posição crítica, contrária ao governo e à bagunça das companhias. Mas se deslocou um pouco para recepcionar a tese do bom caos, gerado por motivos edificantes, "como o aumento do poder de compra dos brasileiros, por exemplo) - inclusão nossa.


Como, então, distinguir o seu pensamento dessa confusão de outros pensamentos e lobbies organizados?  Bem, não tenho a receita. O que costumo recomendar é o seguinte: verifique sempre se as pessoas estão debatendo o mérito da questão ou algum tema associado, que pode até guardar algum parentesco com o assunto principal, mas que é um óbvio desvio.
Se você se pegar falando sobre o desvio, o tema paralelo, não duvide: você caiu na rede profissional dos operadores de opinião pública.”
  
E então, quantas vezes o foco principal de uma discussão foi alterado para uma discussão correlata? 
Veja mais um exemplo do Reynal Azevedo, refletindo quando em 2011 houve a proibição do uso de sacolas plásticas nos supermercados.

"Os temas variam dos mais graves, como o aborto e o Código Florestal, que dizem respeito, respectivamente, à vida humana e à segurança alimentar, aos mais bizarros — mas nem por isso menos lucrativos, como as sacolinhas plásticas nos supermercados. Ninguém convenceria de bom grado um consumidor a sair do mercado carregando compras em caixas de papelão ou em sacolas de lona. Os incômodos são muitos. Alevantou-se, como diria o poeta, um valor mais alto — e hoje base de várias teses autoritárias influentes: a conservação da natureza.Huuummm… Em nome dela, nada mais de sacolinhas feitas de derivado de petróleo! Certo! Considerando que os brasileiros não comem plástico, aquele troço servia, leitor amigo, na sua casa e na minha, de saquinho de lixo, certo? Sem um, aumenta o consumo do outro, e o resultado tende ao empate. Os supermercados podem ganhar uns trocos não fornecendo os saquinhos, a indústria de plástico pode compensar a baixa do consumo de um produto com a elevação do consumo de outro, e só o consumidor se dana. Mas esperem! Há a sacolinha reciclável, feita, parece, com algum derivado do milho… Descobriu-se de pois que havia um único fornecedor para o produto… É mesmo?"
Nesse caso específico, a manipulação não foi muito bem orquestrada, e falhou. Desde 2012 é lei que os supermercados ofereçam sacolas plásticas. 

Pois é... Você está sendo manipulado o tempo todo e nem se dá conta disso... 

Mas calma, nem tudo o que vivemos é comportamento de boiada. Não entre na paranoia, apenas saiba filtrar as coisas. 

Isso é assunto para outros posts. Fica a dica, aceitamos comentários! 

Nossas Referências?


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